Em uma madrugada comum de coleta, garis da Comlurb mudaram o rumo do trajeto — e o destino de uma vida. Era por volta das 3h da manhã quando, entre sacos de lixo e caixas descartadas na Rua Ouro Preto, zona norte do Rio, o gari Samuel achou que havia encontrado um boneco. Mas era real. Uma recém-nascida. Viva.
“Retirei uma caixa de papelão de cima da menina e pensei que era um Bebê Reborn (brinquedo de boneca realista que faz sucesso entre as crianças). Já estava pensando em dar para a minha filha. Ia ser uma briga com as primas. Aí peguei a mão dela e a senti mole demais. Segurei um pouco mais e ela chorou. Aí o coração parou. Foi aquele ódio. Quem fez isso com a criança? Se a gente viesse no ritmo frenético que normalmente fazemos, não a teríamos encontrado ”, contou. Foi ali que a emoção tomou conta. Samuel a pegou no colo, e ela abriu os olhos. “Aí, pronto. Desmanchou os corações dos brutos”, disse ele.
A bebê foi batizada pelo grupo de Vitória. Ela foi imediatamente levada ao hospital e está bem. Mas Samuel não parou por aí. Pai de três, contou à esposa o que aconteceu “Quando falei com a minha esposa, ela disse: “Traz para mim que eu cuido!”. Eu disse para ela que não é assim que funciona.”
“O pessoal todo já perguntando que roupa vestir, mas eu disse que nem adotei a criança ainda. “Quando eu pegar, vocês fazem um chá de panela”, disse para eles. Aqui na Comlurb somos uma família que trabalha junta há mais de dez anos. Ela vai ser da nossa família. Quero conseguir a guarda para contar a história dela. Vou fazer de tudo para que ela fique perto da gente, e, quando ela for maior de idade, vou mostrar o vídeo dela pequenininha, falar que ela nasceu duas vezes,” disse Samuel emocionado.
Outro colega, Anderson, também expressou vontade de adotá-la. “Quando encontramos a criança, foi uma coisa de Deus mesmo; foi a mão de Deus na situação,” e acrescentou “ela é nossa mascote agora.”
Vitória, hoje em recuperação, já tem quem a ame. 
Fonte: O Globo
