sexta-feira, julho 5, 2024
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Mais sujo que tampa de privada

 

Ter uma garrafinha d’água a tiracolo representa um benefício duplo: primeiro, o hábito garante um bom nível de hidratação, algo muito importante em termos de saúde; segundo, evita o consumo excessivo de materiais descartáveis, um ponto positivo em termos de sustentabilidade.

Mas você já parou pra pensar na higiene desse utensílio?

 “Muita gente acredita que, como só vai água ali dentro, basta enxaguar na torneira, antes de encher, que a garrafinha já fica limpa”, observa o médico Rodrigo Lins, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia.

 Mas isso está longe de representar a realidade, apontam as pesquisas: se não forem limpos, esses recipientes podem acumular muitos micro-organismos, como bactérias e fungos, que podem fazer mal à saúde.

Um levantamento realizado pela WaterFilterGuru, uma empresa especializada em controle de qualidade da água nos EUA, calculou que uma única garrafa reutilizável pode carregar cerca de 20,8 milhões de UFCs (Unidades de Formação de Colônias).

 A UFC é uma medida que indica o número de micróbios viáveis, capazes de formar uma colônia, numa determinada superfície.

 O estudo comparou o nível de contaminação de uma garrafinha com uma série de outros objetos que, a princípio, parecem muito mais sujos. Eles encontraram, por exemplo, uma média de 515 UFCs na superfície do assento de privadas — ou 40 mil vezes menos bactérias.

Os números também foram significativamente menores no pote de ração de animais de estimação (1,4 milhão UFCs, em média), no mouse de computador (4 milhões) e na pia da cozinha (11 milhões).

Já um estudo publicado por especialistas da Universidade Henan, na China, concluiu que há um “nível extremamente alto de conteúdo bacteriano e um rápido crescimento microbiano” nesses utensílios.

Os autores estimam uma média de 75 mil bactérias a cada mililitro de água — e esses seres microscópicos podem se multiplicar e chegar a até 2 milhões/ml em apenas 24 horas.

Uma outra pesquisa, realizada na Universidade Purdue, nos EUA, coletou 90 garrafas e descobriu que cerca de 15% dos participantes nunca descartam a água que sobrou no fim do dia — e apenas acrescentam mais líquido no próximo uso.

O inquérito do WaterFilterGuru também detectou alguns problemas de higiene: embora 42% dos participantes tenham declarado que lavam a garrafa pelo menos uma vez ao dia, 25% afirmaram que fazem a limpeza “poucas vezes por semana”, enquanto 13% admitiram que essa faxina ocorre “poucas vezes por mês”.

Mas qual o perigo de usar uma garrafa suja? 

Um poço de bactérias?

Precisamos ter em mente que vivemos cercado de bactérias por todos os lados — e isso não é necessariamente uma coisa ruim (às vezes, é algo bem-vindo e vital para nossa própria sobrevivência).

E esses seres microscópicos podem “invadir” as nossas garrafinhas d’água das mais diversas maneiras.

A primeira e a mais óbvia delas acontece quando encostamos a boca no gargalo, para beber o líquido. Uma porção dos micróbios que colonizam pele, lábios, gengiva, dentes e língua — como os Staphylococcus e os Streptococcus — “pulam” para o utensílio e passam a se multiplicar nesse novo ambiente.

Algo parecido acontece quando usamos os dedos para pegar o recipiente ou desrosquear a tampa, para ter acesso à água. Nossas mãos estão em contato com uma série de outros objetos (maçanetas, botões de elevador, corrimão…) que também são manipulados por outros indivíduos.

As bactérias ainda podem estar nas bolsas e nas mochilas onde a garrafa é transportada, nos armários da academia, na mesa de trabalho, na pia da cozinha…

Uma vez no recipiente, esses micróbios formam colônias e passam a se multiplicar em progressão geométrica, caso não sejam controladas pelas limpezas frequentes — por isso que elas podem passar de 75 mil/ml para 2 milhões/ml em apenas 24 horas, como estimado pelo estudo chinês.

O ambiente úmido, com boa temperatura e escuro (no caso das garrafas de plástico ou alumínio) também representa um cenário ideal para muitas espécies de fungos.

Nos casos em que a higiene está muito atrasada, é possível ver a olho nu o resultado dessa “festa” microscópica: a água ganha alguns detritos, que geralmente decantam no fundo da garrafa, e surgem manchas verdes ou pretas na tampa ou em regiões de difícil acesso, como bocais e canudos.

Mas daí vem a questão: ter contato com esse material representa algum risco à saúde?

A resposta depende de uma série de fatores, apontam os especialistas.

“Nós precisamos levar em conta que temos dez vezes mais bactérias do que células no nosso corpo”, explica Lins, que também é presidente da Sociedade de Infectologia do Estado do Rio de Janeiro.

“A depender da quantidade e dos tipos de micro-organismos ingeridos, nosso sistema imunológico dá conta dessa demanda sem maiores problemas”, complementa ele.

Em alguns casos — quando o número de micróbios na garrafinha está muito elevado, por exemplo — o dono do utensílio pode apresentar alguns sintomas gastrointestinais mais leves, como enjoos e vômitos.

A pessoa também pode estar com o azar de ter a garrafinha colonizada por uma bactéria mais barra-pesada, capaz de provocar infecções graves ou difíceis de tratar com os antibióticos comuns.

Há também aqueles que são alérgicos aos fungos e ao mofo. Neles, o uso de um reservatório de água cheio desses micro-organismos pode causar reações, com o aparecimento de congestão nasal, náusea, dor de cabeça, fadiga, entre outros incômodos.

O microbiologista Jorge Timenetsky, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), explica que alguns grupos são mais vulneráveis — e, portanto, precisam ter mais atenção com a higiene dos objetos de uso pessoal.

“É o caso de crianças pequenas, idosos ou indivíduos com algum comprometimento do sistema imunológico”, lista ele.

Fonte: Da BBC News 

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