A delegada de Mulheres da 4ª Delegacia Regional de Polícia Civil de João Monlevade, Camila Batista Alves, concedeu coletiva de imprensa para fornecer detalhes da investigação de um feminicídio ocorrido em São Gonçalo do Rio Abaixo. A vítima, que residia em João Monlevade, foi assassinada com golpes de faca em um bota-fora, em São Gonçalo´, no dia 17 de dezembro. O investigado e autor confesso do crime, era casado e mantinha um relacionamento extraconjugal com a vítima, com quem tinha um filho de dois anos. O corpo da mulher foi encontrado no dia 31 de dezembro, após o homem ser preso e apontar o local onde havia enterrado o corpo. A motivação do feminicídio foi passional, pois apesar de ser casado, o investigado mantinha relacionamento extraconjugal e tinha ciúmes da vítima. Ele foi preso em Antônio Dias.
Conforme o histórico da ocorrência, no dia 17 de dezembro, o autor entrou em contato com a vítima e disse que ia até a casa dela para entregar o filho dos dois, que estava com ele há uma semana. No contato, ele questionou se a mulher estaria sozinha em casa e se ela teria informado a alguém sobre ele ir à Monlevade, o que foi negado. Segundo a delegada, o suspeito permaneceu com a vítima por um tempo e a levou com vida até o bota-fora, em São Gonçalo. Ele é operador de retroescavadeira e por isso conhecia o local onde matou e enterrou o corpo.
Investigação
A Polícia Civil iniciou as investigações para localização da mulher após a filha dela, que já é maior, ter procurado a polícia para denunciar o desaparecimento da mãe, mas isso ocorreu somente em 26 de dezembro. Durante os trabalhos, a polícia constatou que a vítima era ameaçada pelo investigado, informação repassada pela filha dela, que disse que a mãe tinha um relacionamento conturbado com ele. Importante destacar que entre a denúncia da filha e a localização do corpo, foram cinco dias de intenso trabalho dos policiais.
Segundo a delegada Camila Alves, ficou comprovado que o homem havia planejado se encontrar com a vítima com o objetivo de matá-la. Ainda assim, inicialmente ele contou outra versão à polícia. Ele disse que não sabia onde a mulher estava, mas confirmou ter se encontrado com ela e depois a deixado na avenida Castelo Branco, no bairro República, para que ela fizesse um lanche. No entanto, a vítima havia saído de casa sem bolsa, sem documento e sem aparelho celular, o que não condizia com a fala do então suspeito. “Quando ele veio à delegacia, apresentamos todas as provas que tínhamos de que ele foi a última pessoa a estar com a vítima e de que ela provavelmente estaria morta”, disse a delegada, que completou: “E pelas mensagens, pela forma violenta com a qual ele a tratava, tínhamos fortes indícios de que teria ocorrido um feminicídio”. Após as argumentações, o investigado confessou o feminicídio, contando o local onde ocorreu. Ele foi levado pela Polícia Civil até o bota-fora para mostrar onde havia enterrado o corpo.
Ainda conforme apurado junto a testemunhas, o autor confesso andava com uma faca em seu veículo, afirmando que a usaria para matar a mãe do próprio filho. Foi apurado ainda que ele teria reclamado que a vítima estaria pedindo o que ele considerava “muito dinheiro” para comprar as coisas para o filho. Os pedidos variavam entre R$700 e R$1000, e que isso estaria incomodando-o.
Localização do corpo
O perito responsável pelo caso explicou que a equipe chegou ao bota-fora por volta de meio dia. Foi feito inicialmente uma escavação manual, pois o investigado informou que enterrou a vítima com as próprias mãos. Contudo, foram encontradas muitas dificuldades, pois havia muitos dias que o corpo estava enterrado e o espaço era utilizado para descarte contínuo de materiais. Assim, foi acionado o Corpo de Bombeiro Militar e uma equipe da Prefeitura, com maquinário específico. Foram mais de cinco horas de trabalho para localizar a vítima, que estava há sete metros de profundidade.
Como o corpo já estava soterrado há 14 dias, estava em avançado estado de decomposição. Somado ao movimento do maquinário utilizado, a cabeça desprendeu-se do corpo. “Não podemos deixar de enaltecer o apoio da Prefeitura de São Gonçalo, que prontamente nos atendeu com maquinário e funcionários. O Corpo de Bombeiros também fez um trabalho de extrema qualidade, minucioso”, disse Camila.
Vítima nunca registrou ocorrência
A delegada Camila Alves destacou que apesar do histórico de violência do investigado com a vítima, ela nunca registrou nenhuma ocorrência junto às autoridades. “As vítimas não devem normalizar esse tipo de conduta, com chamamentos ofensivos, menosprezo à qualidade de vida ou ao relacionamento. É muito importante que veja que isso não é um tipo de relação normal”, esclareceu ela.
Ainda segundo a delegada, as mesmas agressões sofridas pela vítima eram sofridas também pela esposa do suspeito, que confirmou saber do caso extraconjugal e que ele era extremamente agressivo. A própria esposa registrou três ocorrências de lesão corporal contra ele. O investigado também é autor de agressão contra a própria mãe, mas nunca havia sido preso. “A sensação que tenho dele é de confiança na impunidade e o menosprezo dele pelo gênero feminino. Ele ostentava as humilhações que fazia com a vítima e a vítima tinha muita confiança nele. Às vezes as mulheres mantêm essas relações não pensando que este pode ser o fim”, disse. Ainda sobre a esposa, a delegada disse que ele ordenou que ela cuidasse do filho, justificando que a mãe da criança, vítima do feminicídio, estaria doente. Por fim, Camila Alves destacou que as testemunhas elogiaram a vítima, dizendo que ela era muito carinhosa com o filho e ativa na comunidade.
Denúncia
A PCMG orienta que todo caso de violência doméstica e familiar contra a mulher seja denunciado. O registro pode ser feito diretamente em unidade policial, via disques 180 ou 181 e também pela Delegacia Virtual nos casos de ameaça, vias de fato/lesão corporal e descumprimento de medida protetiva.
Fonte: Noticia1.com
Repórter- Cíntia Araújo